terça-feira, 26 de junho de 2012

Lisboa que renasce



Atravessando o rio com a aragem refrescante da Nortada nos rostos, o Tomé e os pais depararam-se, ao encostar a pequena jangada naquela praça larga, com um absoluto deserto de gente; ali onde um dia existira uma cidade chamada Lisboa.

Ao fundo, na direcção do Oceano, duas enormes colunas metálicas, vermelhas, erguiam-se no meio do rio, recordando feitos de tempos idos. Agora, apenas se ouvia o vento e um ou outro pássaro que passava, chilreando. Montes de ferrugem, imóveis, aqui e ali, faziam lembrar as imagens que o Tomé vira nos livros daqueles estranhos veículos amarelos que deslizavam sobre linhas metálicas, enquanto, no centro da praça, a figura outrora imponente de um rei a cavalo se cobria de vegetação, dando-lhe um ar muito menos austero, até simpático, agora refúgio da passarada. As arcadas nos edifícios em redor estavam agora cobertas de flores púrpura e amarelas, das buganvílias que se tinham assenhoreado do lugar.

Olhando em volta, decidiram subir por ali acima até ao ponto mais alto, que visto desde cá de baixo, se assemelhava a um pequeno bosque, repleto de grandes árvores, empoleiradas em imponentes muros de pedra.

Pelo caminho, marcado pelas linhas metálicas ondulantes, edifícios silenciosos, imponentes templos religiosos, em ruínas, tomados pela vegetação, contrastavam com a alegria do vôo aparentemente desordenado e alegre das andorinhas que, mais uma vez, marcavam o ritmo da vida e davam uma nota de normalidade à outrora grande metrópole.

Chegados ao cimo, no meio do silêncio das muralhas e do calor do sol de Maio, apareceram, como um oásis no meio da desolação, um pequeno pomar e uma pequena horta, sobreviventes graças a uma nascente que surgira com um dos terramotos de há uns anos. Nunca o Tomé tinha visto tamanha abundância, fugido que vinha das terras quentes e inóspitas do sul. O pai do Tomé pôs mãos à obra, construindo naquele lugar com vista sobre aquele rio magnífico, com o mar ao longe, aquela que se veio a tornar a sua casa, o seu refúgio,  um lugar onde os sonhos voltavam a ser possíveis.

Aqui, onde um dia Lisboa foi fundada, recomeçava agora um novo ciclo, uma nova vida de esperança, de alegria, onde o sonho se podia tornar mais que isso. Um lugar onde o Tomé pôde pela primeira vez ser criança, com uma cidade, um mundo inteiro, para viver e descobrir. 

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